terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sugestão de Pauta: pesquisas com fitoterápicos no Brasil

Data: 2/9/2010

Autor: Coluna Ad hoc - Sugestão de Pauta pesquisas com fitoterápicos no Brasil
 
É bem possível que a Rede Globo, através do Programa Fantástico, tenha interesse em produzir uma reportagem séria e bem informada sobre as pesquisas brasileiras com fitomedicamentos. As opiniões do Dr. Varella à revista Época chamaram a atenção da comunidade científica brasileira e comprovaram, por antecipação, o que se poderia esperar da série sobre fitoterápicos: haveria uma confusão de ideias e, por desordem de conhecimento, os estragos ao conceito logo será visto na comunidade médica e nos cidadãos. Com a melhor das intenções, dirá Dr. Varella, no interesse de prestar um serviço de utilidade pública, assegurará Dr. Varella, os brasileiros vão olhar com maus olhos aos fitomedicamentos e associá-los a tratamentos sem resultados comprovados.

Começamos, pois, sugerindo que a política de inclusão de fitoterápicos pelo Sistema Único de Saúde – SUS aconteceu envolvendo a sociedade civil, o mercado e o Estado. Demorou alguns anos e tinha por princípio ampliar as opções de tratamento. Em comentário recente, quase em resposta às opiniões de Dr. Varella, o pesquisador brasileiro Eduardo de Jesus Oliveira – laboratório de tecnologia farmacêutica da UFPB – comentou: representou uma ampliação das opções terapêuticas e possui, entre seus objetivos, “o uso sustentável da biodiversidade brasileira, o fortalecimento industrial e tecnológico, a ampliação da agricultura familiar,...”.

Outro pesquisador brasileiro, Francisco Panadés Rubió – coordenador da rede Fito-Cerrado e do núcleo de gestão em biodiversidade e saúde da UFMG – alerta que se mantém forte a resistência às pesquisas brasileiras, através de “conceitos e objetivos vinculados à estratégia de manter o Brasil, sua indústria farmacêutica e a nossa ciência e tecnologia, distantes ao máximo de prospectar, mapear, identificar científicamente a nossa biodiversidade vegetal e animal, do ponto de vista bioquímico, de sua atividade biológica, identificação de moléculas ativas (que agem sinergicamente ou isoladamente), visando uma nova base para a indústria farmacêutica e de produção de princípios ativos, além dos fitomedicamentos, produzidos a partir de extratos vegetais”.

Para esclarecer: os chás medicinais foram regulados pela ANVISA a partir de normas alemães sobre drogas vegetais. O tempo em que os chás eram comercializados indevidamente passou. As empresas alimentícias e ervanárias não podem mais sobreviver sem autorização da vigilância sanitária. Uma coisa é reportagem alertando a sociedade e autoridades pela venda indevida de chás sem os registros necessários de comercialização e procedência. Outra coisa é dizer que estão à venda e não têm comprovação científica. Os chás, em geral, tratam de problemas com baixa gravidade. Os abusos e promessas, muitas vezes anunciadas nos infocomerciais e pela internet não podem, e não devem, associar-se às propriedades dos fitoterápicos. Ao usar a expressão fitoterápico e associá-los a ações fora dos registros sanitários, faz um estrago no conceito, não nos comerciantes. Se as promessas de cura e milagres disponíveis nas feiras livres, na mídia e na internet com medicamentos pseudocientíficos prejudicam a saúde, exponham-se os comerciantes, os anunciantes e aqueles que recebem pela divulgação.

Para além disso, o Brasil possui inúmeras – não dez, não apenas uma centena, algumas centenas – de pesquisas com fitomedicamentos. Se começou por tratamentos para doenças de baixa gravidade, hoje em dia, avança por áreas complexas, incluindo a neurologia. Se começou por plantas simples, do conhecimento geral, não fez mais do que qualquer ciência faz: começa por hipóteses acessíveis e reconhecidas, avança por aleatórios, até encontrar padrões com resultados aceitáveis e mecanismos de ações previsíveis. Vale ressaltar – como lembram os pesquisadores aqui citados – que a legislação brasileira para registro de medicamentos é avançada e rigorosa e tem servido de modelo para outros países.

A RDC 14/2010 da ANVISA trata do registro dos fitomedicamentos. E é bem específica ao não considerar fitoterápicos como complemento alimentar – como será que essa idéia chegou até ele? - e seguem os rigores comuns a qualquer medicamento. A desordem de conhecimento promovida na entrevista de Dr. Varella, em curto prazo, fará mais que estragos no conceito. Também levará uma suspeita inaceitável à classe médica e cidadãos. Se for do interesse da produção do Programa Fantástico, valeria conversar com a rede de pesquisadores brasileiros. Cito alguns com quem tenho o privilégio de compartilhar ideias, iniciativas e expectativas: Almir Gonçalves Wanderley (UFPE), Antonio Siani (FIOCRUZ), Maria Bernadete de Sousa Maia (UFPE), Davi Pereira Santana (UFPE), Domingo Tabajara de Oliveira Martins (UFMT), Maria Elisabete Amaral de Moraes (UFC), Luiz Gonzaga Granja Filho (UFPE), José Luiz de Lima Filho (UFPE), Lauro Xavier Filho (UNIT), Marçal de Queiroz Paulo (UFPB), Nereide Stela Santos Magalhães (UFPE), Manoel Odorico de Moraes Filho (UFC), Pedro José Rolim Neto (UFPE), Rui Oliveira Macedo (UFPB), Túlio Flávio Accioly de Lima Moura (UFRN), Benjamin Gilbert (FIOCRUZ), Fátima Motter (Mackenzie) Jan Carlos Dolorenzi (Mackenzie). A lista é extensa e muito bem qualificada.

Quando o Dr. Varella vai à televisão, fala para 70 milhões de brasileiros e diz que os fitoterápicos não funcionam, lamentavelmente, o Dr. TV-Varella, joga na mesma cova rasa - e é inaceitável - as raízes (vendidas por ambulantes no mercado Ver-o-Peso de Belém do Pará) e as pesquisas avançadas que são realizadas em centros de renome internacional, como os da USP, UFRJ, UFRJ, UFPE, UFPB, Mackenzie, UFRS, entre inúmeros outros. A comunidade científica nacional, certamente, requerer do Dr.Varella uma retratação no mesmo horário, claro, do estrago que ele tenta causar à nossa pesquisa e ao nosso país.



*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica - www.hebron.com.br e Diretor Temático de Assuntos Parlamentares da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades - ABIFINA - http://www.abifina.org.br/.
 
 
Texto enviado o email de grupo da Red Iberofito por Daiana Isabel Fritzen - Farmacêutica residente - Unidade de Saúde Divina Providência - GHC

Um comentário:

  1. MAS O DR JOSIMAR HENRIQUE TAMBÉM ESTA ADVOGANDO EM CAUSA PRÓPRIA ENQUANTO FABRICANTE DE FITOTERÁPICOS...NÃO SE PODE ACREDITAR EM NINGUÉM.OU MELHOR,QUANDO MINHA VÓ DIZ QUE UM CHÁ É BOM PELO MENOS SEI Q ELA NÃO QUE ME VENDER NADA ..!

    ResponderExcluir