quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Dia Internacional dos Farmacêuticos

A Federação Internacional Farmacêutica - FIP recentemente estabeleceu o dia 25 de setembro como o Dia Internacional dos Farmacêuticos. A decisão não altera as datas já existentes em cada país e tem como objetivo estimular a união dos farmacêuticos do mundo inteiro.

Para comemorar o dia, a Coordenação Estadual de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (CEAF/DT/SESPA) realizou ação de divulgação das atividades do profissional farmacêutico na Praça Brasil, durante a Feira do Produtor de Orgânicos, e na Praça da República, no município de Belém, Estado do Pará.

Na ocasião, os farmacêuticos da CEAF/DT/SESPA distribuiram folderes e esclareceram dúvidas da população sobre a profissão.

Fonte: CEAF/DT/SESPA

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

HORUS - Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica

Dados, informações e conhecimento são fundamentais para a tomada de decisões. Informações confusas, contraditórias e de péssima qualidade resultam em decisões erradas, falhas e inadequadas. Em saúde, os dados e as informações podem significar a vida de um indivíduo. Qualquer falha na coleta, organização e fornecimento de informações pode levar o gestor em saúde a optar pela solução inadequada ao problema ou pior: pode prejudicar a capacidade analítica e percepção dos problemas, dificuldades, fragilidades, conquistas, avanços e perspectivas no setor saúde.

O Ministério da Saúde possui uma gama variada de sistemas de informação em saúde que, se bem utilizados, auxiliam os gestores em suas decisões tomadas de modo isolado ou compartilhado.

Apesar dos avanços na Assistência Farmacêutica do país, até o ano passado ainda não havia um sistema de informações sobre medicamentos, que permitisse o controle, o acompanhamento, a avaliação e a análise da seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição, prescrição e dispensação de medicamentos, de acordo com os componentes (básico, estratégico e especializado) e a esfera de gestão.

No final do ano de 2009, o Ministério da Saúde lançou o HORUS - Sistema Nacional de Gestão da Assistência Farmacêutica que, em última instância, é uma excelente "ferramenta" de apoio a gestão da Assistência Farmacêutica nos estados e municípios.

Para implantar o HORUS,  os municípios necessitam de uma estrutura composta de computador, impressora e acesso a internet nos estabelecimentos de saúde:

• Microcomputador Pentium III, 128 MB de memória;
• Internet Explorer 7 ou Firefox 3.5;
• Impressora: matricial, jato de tinta ou laser;
• Conexão de acesso à internet de 1 MB;
• Java: http://www.java.com/pt_BR/ (gratuito);
• Adobe Reader: http://get.adobe.com/br/reader/ (gratuito).


Fonte: DAF/MS

domingo, 12 de setembro de 2010

Importantes patentes expiram em 2010


Apesar da chamada queda de patentes não chegar até 2011, em 2010 veremos expirações de patentes de alguns dos medicamentos mais vendidos no setor. Teva, a Apotex, a Mylan e de muitos outros fabricantes de medicamentos genéricos terão a oportunidade de deixar sua marca sobre as vendas de um certo número de medicamentos de marca este ano, incluindo Flomax® e Aricept®.


Lipitor®, cuja base patente expira este ano, não vai enfrentar a concorrência dos genéricos até 2011 devido ao acordo da Pfizer com a Ranbaxy. No entanto, está incluído na lista que define os medicamentos top-selling.

A lista de expirações de patentes incluem medicamentos cuja patente expira este ano, mas que conseguiram um atraso de seis meses, devido à sua exclusividade pediátrica.

Cozaar Hyzaar® / - Merck
Lipitor® - Pfizer
Flomax® - Boehringer Ingelheim
Arimidex® - AstraZeneca
Climara® - Bayer HealthCare
Aricept® - Aricept
Invirase® - Roche
Hycamtin® - GlaxoSmithKline
Protonix® - Pfizer
Levaquin® - Levaquin


Mais informações sobre a validade dessas patentes em: www.fiercepharma.com/special-reports/cozaar-hyzaar-big-patentexpirations-2010

Fonte: Boletín Farmacos (Abril 2010)

Uso Racional de Medicamentos: a automedicação como consequência da publicidade

O gasto em produtos farmacêuticos vêm crescendo de forma notável em todo o mundo e se estima que é uma tendência que crescente.

A publicidade se dirige, cada vez mais, a incitação do consumo de medicamentos de venda livre, gerando expectativas pouco realistas sobre os benefícios do medicamento e uma demanda inadequada por estes. Um problema dificil de abordar e solucionar.

Pacientes, saúde e assistência social precisam trabalhar juntos para implementar as medidas para maximizar um aspecto positivo da publicidade, aumentar o uso de medicamentos que possam beneficiar a maioria,  minimizando as preocupações sobre segurança e despesas desnecessárias no uso inadequado.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Terceirização da Assistência Farmacêutica" em Belém


Em meio aos avanços da Assistência Farmacêutica no país, o município de Belém, que já foi exemplo, involui assustadoramente.

Continua mantida a ordem do ex-secretário de saúde em exercício, Dr. Mailton, que continua preso na Polícia Federal, de fechar a Central de Abastecimento Farmacêutico de Belém. A orientação é que os contratados serão destratados, concursados lotados para outras unidades da SESMA e os medicamentos deverão ser recolhidos das Unidades Municipais de Saúde até o dia 13/09/2010.

As autoridades sanitárias e farmacêuticas do Estado do Pará e do país já estão alertas e prontas para defender o patrimônio do povo de Belém: a Central de Abastecimento Farmacêutico.

Texto: Marselle Nobre de Carvalho

terça-feira, 7 de setembro de 2010

III Congresso de Assistência Farmacêutica da Amazônia Brasileira

O primeiro dia do congresso.
Belém sediou em agosto um dos maiores eventos farmacêuticos da região amazônica.

Foram três dias, mais de 500 Congressistas, entre convidados, estudantes de graduação e pós-graduação, profissionais de saúde e usuários do Sistema Único de Saúde, dos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão, Ceará, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo e mais de 50 trabalhos científicos, que envolveram instituições de ensino e de gestão da região.

Idealizado pela farmacêutica Ana Célia Moura, do Amazonas, o Congresso de Assistência Farmacêutica da Amazônia Brasileira chegou a Belém na sua terceira edição, organizado pela Faculdade de Farmácia da UFPA e Coordenação Estadual de Assistência Farmacêutica da Sespa.

Segundo o professor Marcos Valério da Silva, coordenador da Faculdade de Farmácia, o Congresso foi uma iniciativa importante pois permitiu a discussão entre estudantes, docentes, gestores, trabalhadores da área de saúde e a comunidade em geral de temáticas extremamente relevantes ao contexto amazônico.
 
O secretário de Saúde de Castanhal (PA), Kleber Miranda, padrinho do evento, expôs as dificuldades enfrentadas como gestor e lembrou que antes a Sespa adquiria os medicamentos e encaminhava aos municípios, enfrentando entraves a serem superados. Hoje, os municípios recebem recursos para adquirirem os medicamentos, conforme seu perfil epidemiológico. "Isso melhorou o acesso, mas ainda enfrentamos dificuldades por falta de capacidade de gestão" , explicou.

Ele alertou que a Amazônia Legal precisa ser tratada de forma diferente pelo Ministério da Saúde, porque a realidade é muito diferente das demais regiões brasileiras, principalmente, no que tange a extensão territorial e dificuldade de acesso.

Segundo Kleber, o SUS precisa de profissionais mais qualificados e compromissados, para evitar encaminhamentos desnecessários, por exemplo, que oneram muito o Sistema. "É preciso identificar, de forma correta, o problema do paciente", frisou.

Para Karen Sarmento, do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, "os desafios são enormes, mas já houve grandes avanços na ampliação do acesso e financiamento da assistência farmacêutica". Ela também ministrou a palestra "Assistência Farmacêutica no Brasil", tendo como mediadora, a coordenadora de Assistência Farmacêutica da Sespa, Cristina Maués.


Prof. José Augusto Cabral de Barros no terceiro dia do congresso.

A coordenadora geral do congresso, Marselle Nobre de Carvalho, avaliou que, apesar de todas as dificuldades para a realização do evento, os objetivos foram atingidos. "Reunimos em um mesmo espaço, durante três dias, gestores, trabalhadores, pesquisadores, professores e estudantes da área da saúde, bem como usuários do SUS e pessoas de outras categorias profissionais, como administradores, psicólogos, entre outros, para discutir a assistência farmacêutica e o uso racional de medicamentos na região amazônica. Contamos com a presença palestrantes importantes para o debate, como Dra. Lore Lamb, assessora técnica do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), Dra. Maria Eugênia Cury, Dra. Ana Paula Massera e Dra. Robelma Marques (ANVISA), Dra. Karen Sarmento (DAF/MS), Dra.Silvana Nair Leite (UNB), Dra. Mary Anne Bandeira (NUFITO-CE) e Dr. José Augusto Cabral de Barros (UFPE). Além desses, tenho que destacar a honra de termos trazido o Dr. José Augusto Alves Dupim, um dos pioneiros da assistência farmacêutica no Brasil. Vale ressaltar que, além da extensa programação científica, realizamos 08 minicursos ministrados por profissionais de renome regional, nacional e até internacional. Destaco a vinda do Prof. Wellington Barros, da Universidade de Sergipe, e da Dra. Sonja Macedo, vice-presidente da Associação de Farmacêuticos Atuantes em Logística (ANFARLOG). Portanto, posso dizer que o congresso foi um sucesso para nós e para a região".

Ao final do congresso, a comissão científica anunciou as menções honrosas e a comissão organizadora procedeu a leitura da Carta de Belém. O documento encontra-se na íntegra no site do congresso (www.geraweb.net/congressoafamazonia).


Fonte: Isaude.net, O Diário do Pará (terça-feira, 27/07/2010, 16h08), Carta de Belém - III CONAFAB

Sugestão de Pauta: pesquisas com fitoterápicos no Brasil

Data: 2/9/2010

Autor: Coluna Ad hoc - Sugestão de Pauta pesquisas com fitoterápicos no Brasil
 
É bem possível que a Rede Globo, através do Programa Fantástico, tenha interesse em produzir uma reportagem séria e bem informada sobre as pesquisas brasileiras com fitomedicamentos. As opiniões do Dr. Varella à revista Época chamaram a atenção da comunidade científica brasileira e comprovaram, por antecipação, o que se poderia esperar da série sobre fitoterápicos: haveria uma confusão de ideias e, por desordem de conhecimento, os estragos ao conceito logo será visto na comunidade médica e nos cidadãos. Com a melhor das intenções, dirá Dr. Varella, no interesse de prestar um serviço de utilidade pública, assegurará Dr. Varella, os brasileiros vão olhar com maus olhos aos fitomedicamentos e associá-los a tratamentos sem resultados comprovados.

Começamos, pois, sugerindo que a política de inclusão de fitoterápicos pelo Sistema Único de Saúde – SUS aconteceu envolvendo a sociedade civil, o mercado e o Estado. Demorou alguns anos e tinha por princípio ampliar as opções de tratamento. Em comentário recente, quase em resposta às opiniões de Dr. Varella, o pesquisador brasileiro Eduardo de Jesus Oliveira – laboratório de tecnologia farmacêutica da UFPB – comentou: representou uma ampliação das opções terapêuticas e possui, entre seus objetivos, “o uso sustentável da biodiversidade brasileira, o fortalecimento industrial e tecnológico, a ampliação da agricultura familiar,...”.

Outro pesquisador brasileiro, Francisco Panadés Rubió – coordenador da rede Fito-Cerrado e do núcleo de gestão em biodiversidade e saúde da UFMG – alerta que se mantém forte a resistência às pesquisas brasileiras, através de “conceitos e objetivos vinculados à estratégia de manter o Brasil, sua indústria farmacêutica e a nossa ciência e tecnologia, distantes ao máximo de prospectar, mapear, identificar científicamente a nossa biodiversidade vegetal e animal, do ponto de vista bioquímico, de sua atividade biológica, identificação de moléculas ativas (que agem sinergicamente ou isoladamente), visando uma nova base para a indústria farmacêutica e de produção de princípios ativos, além dos fitomedicamentos, produzidos a partir de extratos vegetais”.

Para esclarecer: os chás medicinais foram regulados pela ANVISA a partir de normas alemães sobre drogas vegetais. O tempo em que os chás eram comercializados indevidamente passou. As empresas alimentícias e ervanárias não podem mais sobreviver sem autorização da vigilância sanitária. Uma coisa é reportagem alertando a sociedade e autoridades pela venda indevida de chás sem os registros necessários de comercialização e procedência. Outra coisa é dizer que estão à venda e não têm comprovação científica. Os chás, em geral, tratam de problemas com baixa gravidade. Os abusos e promessas, muitas vezes anunciadas nos infocomerciais e pela internet não podem, e não devem, associar-se às propriedades dos fitoterápicos. Ao usar a expressão fitoterápico e associá-los a ações fora dos registros sanitários, faz um estrago no conceito, não nos comerciantes. Se as promessas de cura e milagres disponíveis nas feiras livres, na mídia e na internet com medicamentos pseudocientíficos prejudicam a saúde, exponham-se os comerciantes, os anunciantes e aqueles que recebem pela divulgação.

Para além disso, o Brasil possui inúmeras – não dez, não apenas uma centena, algumas centenas – de pesquisas com fitomedicamentos. Se começou por tratamentos para doenças de baixa gravidade, hoje em dia, avança por áreas complexas, incluindo a neurologia. Se começou por plantas simples, do conhecimento geral, não fez mais do que qualquer ciência faz: começa por hipóteses acessíveis e reconhecidas, avança por aleatórios, até encontrar padrões com resultados aceitáveis e mecanismos de ações previsíveis. Vale ressaltar – como lembram os pesquisadores aqui citados – que a legislação brasileira para registro de medicamentos é avançada e rigorosa e tem servido de modelo para outros países.

A RDC 14/2010 da ANVISA trata do registro dos fitomedicamentos. E é bem específica ao não considerar fitoterápicos como complemento alimentar – como será que essa idéia chegou até ele? - e seguem os rigores comuns a qualquer medicamento. A desordem de conhecimento promovida na entrevista de Dr. Varella, em curto prazo, fará mais que estragos no conceito. Também levará uma suspeita inaceitável à classe médica e cidadãos. Se for do interesse da produção do Programa Fantástico, valeria conversar com a rede de pesquisadores brasileiros. Cito alguns com quem tenho o privilégio de compartilhar ideias, iniciativas e expectativas: Almir Gonçalves Wanderley (UFPE), Antonio Siani (FIOCRUZ), Maria Bernadete de Sousa Maia (UFPE), Davi Pereira Santana (UFPE), Domingo Tabajara de Oliveira Martins (UFMT), Maria Elisabete Amaral de Moraes (UFC), Luiz Gonzaga Granja Filho (UFPE), José Luiz de Lima Filho (UFPE), Lauro Xavier Filho (UNIT), Marçal de Queiroz Paulo (UFPB), Nereide Stela Santos Magalhães (UFPE), Manoel Odorico de Moraes Filho (UFC), Pedro José Rolim Neto (UFPE), Rui Oliveira Macedo (UFPB), Túlio Flávio Accioly de Lima Moura (UFRN), Benjamin Gilbert (FIOCRUZ), Fátima Motter (Mackenzie) Jan Carlos Dolorenzi (Mackenzie). A lista é extensa e muito bem qualificada.

Quando o Dr. Varella vai à televisão, fala para 70 milhões de brasileiros e diz que os fitoterápicos não funcionam, lamentavelmente, o Dr. TV-Varella, joga na mesma cova rasa - e é inaceitável - as raízes (vendidas por ambulantes no mercado Ver-o-Peso de Belém do Pará) e as pesquisas avançadas que são realizadas em centros de renome internacional, como os da USP, UFRJ, UFRJ, UFPE, UFPB, Mackenzie, UFRS, entre inúmeros outros. A comunidade científica nacional, certamente, requerer do Dr.Varella uma retratação no mesmo horário, claro, do estrago que ele tenta causar à nossa pesquisa e ao nosso país.



*Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica - www.hebron.com.br e Diretor Temático de Assuntos Parlamentares da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades - ABIFINA - http://www.abifina.org.br/.
 
 
Texto enviado o email de grupo da Red Iberofito por Daiana Isabel Fritzen - Farmacêutica residente - Unidade de Saúde Divina Providência - GHC

Presidente do CFF questiona Drauzio Varella. Médico responde

Data: 19/08/2010


O Presidente do Conselho Federal de Farmácia, Jaldo de Souza Santos, enviou, hoje (19.08.10), uma carta ao médico Drauzio Varella, questionando-o sobre suas opiniões acerca de plantas medicinais e fitoterápicos manifestadas em entrevistas que concedeu à revista “Época”. O Dr. Drauzio Varella estrea, nesta domingo, um quadro no programa “Fantástico”, da “Rede Globo”, abordando plantas e fitos. Varella respondeu, no fim da tarde, a carta de Souza Santos. Ele diz condenar “a falta de estudos clínicos” relacionados a esses produtos. Veja a carta do Presidente do CFF a Drauzio Varella e a resposta do médico.


CARTA DO PRESIDENTE DO CFF, JALDO DE SOUZA SANTOS, AO MÉDICO DRAUZIO VARELLA


Brasília, 19 de agosto de 2010.


Dr. Drauzio Varella,

Tomamos conhecimento, com preocupação, sobre a sua opinião sobre plantas medicinais e fitoterápicos manifestada em matérias publicadas na revista “Época”. Plantas e fitoterápicos são, sim, objetos de estudos técnicos e científicos, inclusive por farmacêuticos. Neste sentido, temos a enorme satisfação de informar-lhe que o Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio de uma Comissão integrada por excelências em plantas, fitos e suas respectivas terapêuticas, vem estudando os mecanismos de ação, efeitos, reações adversas, interações entre os mesmos, alimentos e medicamentos alopáticos. As conclusões apontam para a eficácia do tratamento à base desses produtos.

De sorte que achamos precipitada a sua opinião, ao afirmar que a indicação de plantas e fitos para o tratamento de doenças é um erro, inclusive do Ministério da Saúde. Diante disso, solicito-lhe que repense as suas posições, para que o “Fantástico”, da “Rede Globo”, no qual o senhor fará uma série sobre o tema, não seja um programa que, além de deseducar, venha criar uma opinião negativa acerca das plantas e fitoterápicos, estudados e consagrados, sim, pela população, estudiosos, como farmacêuticos especialistas, além de outros profissionais da saúde, ainda que contrariando certos interesse econômicos.

Enviamos-lhe matérias publicadas em nossa revista, a “`Pharmacia Brasileira”, e, também, a “Carta de Porto Alegre”, as quais abordam o tema.


Atenciosamente,

Jaldo de Souza Santos,
Presidente do Conselho Federal de Farmácia.

Clique nos links e veja matérias publicadas na revista “Pharmacia Brasileira” e a “Carta de Porto Alegre”, que abordam o tema plantas medicinais e fitos.








CARTA-RESPOSTA DO MÉDICO DRAUZIO VARELLA AO PRESIDENTE DO CFF, JALDO DE SOUZA SANTOS


Caro professor Jaldo de Souza Santos:

Peço que o senhor não se preocupe com o conteúdo da série que faremos na TV. Minhas ideias sobre esse tema não são " precipitadas".

Desde 1995 coordeno um projeto de pesquisa de atividade antineoplásica e antibacteriana em plantas da região do rio Negro, com apoio da Fapesp. Nossa extratoteca contém cerca de 2200 extratos, dos quais alguns mostraram intensa atividade antitumoral ou antibacteriana.

Esses resultados têm sido apresentados em congressos e publicados em revistas especializadas nacionais e internacionais. Só uma pessoa desquilibrada faria uma série na TV para vilipendiar um campo de pesquisa ao qual tem dedicado 15 anos de atividade.

Em nenhum momento afirmei que não existem pesquisas com produtos naturais no Brasil. Seria negar a existência do projeto que coordeno e desprezar o trabalho realizado pelos jovens cientistas que a ele se dedicam em tempo integral, além de desqualificar as pesquisas realizadas nos laboratórios do país inteiro. O que condeno é a falta de estudos clínicos dignos desse nome. O senhor sabe melhor do que eu que a atividade encontrada num sistema experimental nem sempre se confirma na clínica.

Se eu tratasse meus pacientes com câncer com os extratos que mostraram atividade contra linhagens de células malignas em nosso laboratório, seria considerado criminoso. Por que essa regra não vale para os que receitam produtos que não passaram pelos estudos de toxicidade e as avaliações clínicas exigidas para os medicamentos convencionais?

Está certo receitar extrato de alcachofra para "dores abdominais causadas por problemas hepáticos e das vias biliares" como está na lista do Ministério? Ou xarope de guaco para problemas respiratórios sem ter ideia do diagnóstico? Em que revista de impacto foi publicado o estudo que comprova a eficácia da babosa ou da graviola no tratamento do câncer?

Em minha opinião, professor, enquanto admitirmos nesse empirismo irresponsável a Fitoterapia jamais será levada a sério no Brasil. A incrível diversidade de plantas em nossas florestas poderá ter muitas utilidades, mas entre elas não estará o uso medicinal.

Estou certo de que um Conselho respeitado como o Federal de Farmácia também não compactua com a divulgação das crendices sobre o poder de cura das plantas que se espalham pelo país, algumas da quais com a chancela de órgãos oficiais.

Ao contrário do que o senhor entendeu, para mim a Fitoterapia é um dos caminhos mais promissores para obtermos medicamentos eficazes e mais baratos do que os atuais. Talvez seja esse o futuro de uma indústria farmacêutica verdadeiramente nacional.

Para encerrar, professor, convido-o a fazer uma busca no Pubmed à procura de estudos clínicos de fase III envolvendo fitoterápicos.

Atenciosamente

Drauzio Varella
 
Texto enviado por Robelma France Marques (por email).

Poesia sobre as plantas medicinais

AS PLANTAS MEDICINAIS


As plantas medicinais

Combatem doenças e dores

Só temos de conhecer

Seus verdadeiros valores

Quem entende desta arte

Descreve parte por parte

Para explicar aos leitores



Tudo o que Deus criou

Já nasce com seu valor

Não sou contra farmácia

Nem hospital nem doutor

Mas se existissem as reservas

Das matas com suas ervas

Não havia tanta dor



Vamos procurar conhecer

As plantas medicinais

Seguindo um pouco do exemplo

Que deram os nossos pais

Pra ver se sobram alguns trocados

Pois só com remédio comprado

A gente não agüenta mais!



Rosenir Gonçalves Neves – Livro Xacriabá de plantas medicinais

Um outro olhar

Através da história, da comunicação e do “novo olhar” da ciência, as novidades de hoje encontram-se voltadas para o mundo verde que por ação da mãe natureza, que até o homem não explica, tal verde age não somente no bem saudável, mas até mesmo com muita risca, assume resultados tradicionalmente aceitos.

Tal natureza alega sua importância, através de suas criações, podendo atentar-se a cada pedacinho dessas raízes, a cada mL desses extratos, sendo cada folha bem cuidada e transformada em um brinde aceito pela medicina tradicional.

Não é a toa que os índios desse imenso Brasil não apenas administravam as plantas medicinais, mas também cuidavam, conviviam, exploravam e se preciso se alimentavam dessas plantas. Ainda hoje, nas regiões mais pobres do país isto ainda é comum, e sobre esse costume os profissionais na área se preocupam em se atentar para esses consumidores alertando-os sobre as formas cautelosas de seu uso, bem como “cuidando” dessas plantas, afinal: “As plantas medicinais combatem doenças e dores, só temos de conhecer, seus verdadeiros valores...”

Rosenir Gonçalves Neves – Livro Xacriabá de plantas medicinais

Matéria do Fantástico - Ervas medicinais: os conselhos de Drauzio Varella

O médico fala sobre sua nova série no Fantástico, 'É bom pra quê?', que estreia no dia 22/08/2010

CRISTIANE SEGATTO - Repórter especial, faz parte da equipe de ÉPOCA desde o lançamento da revista, em 1998. Escreve sobre medicina há 15 anos e ganhou mais de 10 prêmios nacionais de jornalismo

Quantas vezes na vida você ouviu a expressão “se não fizer bem, mal também não faz”? Nós, brasileiros, gostamos de pensar que tudo o que é natural é necessariamente benéfico. Temos medo dos efeitos colaterais dos remédios, mas não nos preocupamos em saber se chazinhos ou cápsulas naturais causam reações indesejáveis. A resposta é sim. A natureza tem venenos poderosos.

No ano passado, escrevi uma coluna sobre os riscos da interação entre ervas muito populares e medicamentos convencionais. Uma lista de várias combinações perigosas você encontra neste link. Volto ao tema hoje com uma ótima novidade. O médico Drauzio Varella estreia no dia 29 mais uma de suas excelentes séries no Fantástico, da TV Globo. Ela vai se chamar É bom pra quê? Em quatro domingos, Drauzio vai apresentar uma ampla investigação sobre ervas e fitoterápicos. A equipe viajou para nove Estados e levantou as evidências científicas relacionadas às ervas mais usadas no Brasil. As revelações vão surpreender muita gente. E, certamente, provocar controvérsia.


Depois desse mergulho no mundo obscuro dos fitoterápicos, Drauzio concluiu que os brasileiros estão sendo enganados. Nesta semana, ele me contou em primeira mão o que descobriu. Com vocês, a visão e os conselhos de Drauzio:



DRAUZIO VARELLA

"Antes de oferecer essas ervas aos pacientes, é preciso avaliar a ação delas com rigor científico"

ÉPOCA – Ervas medicinais servem pra quê?

Drauzio Varella – Mais da metade dos medicamentos são derivados dos produtos naturais. A morfina e a aspirina são alguns exemplos. Ervas e chás são usados desde sempre. Galeno desenvolveu no século II uma poção que tinha mais de 70 ervas. Até carne de cobra tinha nessa poção. Era usada tudo o que você pode imaginar. Essa poção foi usada até o século XIX na Europa. Foram acrescentando outras coisas. Chegou a ter mais de cem plantas misturadas. Era uma panaceia. À medida que a química analítica foi se desenvolvendo, especialmente na Alemanha, eles começaram a procurar nessas plantas quais eram os princípios ativos. Da papoula, os alemães isolaram a morfina. De outra planta, isolaram a aspirina. Foi assim que a farmacologia se desenvolveu. Mas a tradição de usar chás sempre existiu. Todos nós temos na família um chá predileto. Uma coisa é dar um chá de camomila para criança. Isso é feito há séculos e a gente sabe que não faz mal nenhum. Ou chá de erva cidreira para acalmar, para dormir etc. Outra coisa é usar chás para tratar de doenças. Essa é uma medicina extremamente popular, mas é um problema.



ÉPOCA – O Ministério da Saúde elegeu oito plantas às quais se atribui alguma atividade e passou a distribuí-las no SUS. São elas: alcachofra, aroeira, cáscara sagrada, garra do diabo, guaco, isoflavona da soja e unha de gato. Isso é ruim?

Drauzio – Que tipo de medicina o governo cria com uma medida como essa? Ele institui duas medicinas: a do rico e a do pobre. As pessoas que têm acesso ao atendimento de saúde vão a médicos e compram remédios em farmácia. O que o governo fez foi criar uma medicina para pobres baseada em plantas que não têm atividade demonstrada cientificamente. Quando dizem que determinada planta tem atividade isso significa que em tubo de ensaio ela demonstrou ter determinada ação. Mas isso não basta. Para ter ação comprovada em seres humanos, falta muita coisa.

ÉPOCA – O que você pretende mostrar com essa série?

Drauzio – Nosso objetivo é mostrar que esses fitoterápicos têm de ser estudados. Têm de ser submetidos ao mesmo escrutínio ao qual os remédios comuns são submetidos. Essas coisas são jogadas para o público sem passar por estudo nenhum. Hoje vemos órgãos públicos distribuindo esses chás e fazendo o que chamam de Farmácias Vivas. Estivemos em várias delas. Em Belém, Imperatriz (no Maranhão) e em Goiânia. Essas Farmácias Vivas não são nada mais do que hortas. As plantas são cultivadas ali e distribuídas para a população sem o menor critério. Muitas vezes são indicadas por pessoas que não entendem nada de medicina. Outras vezes, são prescritas por médicos. Quem não prefere tomar um chá desses em vez de um comprimido ou injeção? Essas Farmácias Vivas estão no país inteiro. São estimuladas pelo Ministério da Saúde e pelas secretarias estaduais.
ÉPOCA – Os riscos e os benefícios dessas oito plantas eleitas pelo Ministério da Saúde não foram suficientemente determinados?

Drauzio – Eles dizem que os riscos e os benefícios foram avaliados pelo uso tradicional. É para dar risada. A Anvisa dá uma relação dessas plantas e coloca qual é a alegação terapêutica. Apresentar a alegação terapêutica significa afirmar o seguinte “dizem que serve para tal coisa, mas ninguém comprovou”. É uma situação muito séria. Primeiro porque ninguém sabe de que forma essas plantas podem interagir com os remédios que a pessoa está tomando. Ninguém sabe o que pode acontecer. Outro problema grave é que as pessoas abandonam o tratamento convencional e ficam apenas com as ervas.
ÉPOCA – A Organização Mundial da Saúde de certa forma incentiva o uso desses produtos naturais porque a maioria da população mundial não tem acesso à medicina. Nesse contexto, as ervas não têm um papel importante?

Drauzio – Acho que esse é o cerne da discussão. É um absurdo dizer “olha, já que vocês não têm acesso à medicina se contentem tomando chazinho”. Isso é enganar a população. É dar a impressão de que as pessoas estão sendo tratadas quando na verdade não estão. Antes de oferecer essas ervas aos pacientes, é preciso avaliar a ação delas com rigor científico. Por exemplo: como saber se um determinado chá traz algum benefício contra a gastrite? É preciso separar dois grupos de pacientes. Um deles toma uma droga conhecida, como o omeprazol. O outro toma omeprazol e mais um chá que vem num sachê junto com uma bula que explique direitinho quantos minutos aquilo tem de ficar na água etc. Aí é comparar os resultados obtidos nos dois grupos. Não existe estudo assim. E ninguém está disposto a fazer. Os defensores dessa chamada medicina natural querem que o mundo aceite que é desse jeito e acabou. Sem nenhum estudo e sem passar por todo processo de avaliação científica que os medicamentos passam para poder ter a ação demonstrada.
ÉPOCA – O Ministério da Saúde errou ao adotar essa política?

Drauzio – Essa medida está totalmente errada. Isso não deveria ter sido feito de jeito nenhum. O que está por trás disso é uma questão política. Imagine se eu fosse o prefeito de uma pequena cidade do interior. Quanto custa um posto de saúde, médico, enfermagem, paramédicos etc? Custa caro. É muito mais barato fazer uma horta e mandar o médico receitar aquilo. E ainda inauguro o negócio com o nome de Farmácia Viva. Imagine só que nome mais inadequado. Fazer uma coisa dessa não custa quase nada. E os políticos adoram inaugurar essas hortas. Há centenas delas no Brasil.
ÉPOCA – Que realidade vocês encontraram durante a apuração das reportagens?

Drauzio – Descobrimos muitas histórias. Em Belém, estivemos na sede da Embrapa. Encontramos lá um engenheiro agrônomo que dá consultas. Você diz que está tossindo, com febre e ele te dá um xarope de guaco. Isso é feito dentro de um órgão público, oficial. O paciente que vai lá é tratado por um engenheiro agrônomo. Isso é aceito como se fosse uma coisa normal. Há uma ideologia por trás disso. É a ideologia de que as coisas naturais são melhores, de que os remédios fazem mal para a saúde, de que a tradição é melhor que a ciência. É uma coisa do século passado. A população de baixa renda está nas mãos de pessoas como esse engenheiro agrônomo. Ele faz isso de boa fé. Não faz para ganhar dinheiro. Ele acredita no que faz. Mas estamos numa área em que as crenças individuais não têm a menor importância.
ÉPOCA – Você vai criticar hábitos arraigados na cultura brasileira. Está preparado para enfrentar as críticas?

Drauzio – Todas as séries que fizemos no Fantástico foram séries que, de um modo geral, agradavam às pessoas. Falar sobre obesidade e hipertensão são coisas úteis. Todo mundo fica de acordo. Essa nova série vai ser diferente. Ela vai me criar problema. Em geral, quem usa esse tipo de medicina (se é que podemos chamar isso de medicina) são pessoas ignorantes, crédulas e que acreditam em qualquer besteira que digam a elas. O que me desconcerta é ver pessoas muito cultas que também usam essas coisas.Tenho amigos que usam. Recomendam suco de berinjela para baixar o colesterol e outras bobagens. Toda hora ouvimos falar isso. Tenho um amigo que é seguramente a pessoa mais culta que eu conheço. Tem uma cultura absurda, mas acredita em todas essas idiotices. Às vezes as pessoas têm uma cultura gigantesca em outras áreas, mas em farmacologia são completamente ignorantes. Tão ignorantes quanto o coitado que não pôde aprender a ler e a escrever e credulamente vai atrás dessas coisas.
ÉPOCA – Além dos chazinhos, existem produtos fitoterápicos registrados pela Anvisa e vendidos nas farmácias. Esses também não são submetidos a estudos para comprovar eficácia e riscos?

Drauzio – Eles são registrados na Anvisa como complemento alimentar. Ou seja: não passam pelo mesmo crivo de um medicamento. Se eu tivesse autoridade para isso, mandaria recolher do mercado todos os fitoterápicos cuja eficácia não tenha sido demonstrada cientificamente.

ÉPOCA – Imagino que muita gente vai dizer que você está defendendo os grandes laboratórios. Como vai responder a essa crítica?

Drauzio – Não tenho a menor dúvida de que esse tipo de comentário vai surgir. Minha resposta é simples. Não estamos fazendo defesa de nenhum medicamento. Não estamos beneficiando nenhum laboratório. Essa é uma questão filosófica. Enquanto a medicina era baseada em chazinhos, as pessoas viviam apenas 30 ou 40 anos. As pessoas falam tanto da medicina chinesa, não é? Elas justificam a eficácia da medicina chinesa dizendo que é milenar. Mas no início do século XIX os chineses (que contavam com essa medicina há muito tempo) morriam, em média, aos 30 anos. Quem provocou esse salto na qualidade e na duração da vida foi a medicina moderna: as vacinações, os antibióticos, o controle da pressão arterial, do diabetes etc. Na verdade, esse é um argumento ideológico recorrente. Dizem que é preciso dar chazinhos porque as multinacionais fazem remédios caros, que envenenam as pessoas etc. Criam uma teoria da conspiração. Todo mundo sabe que teoria da conspiração é uma coisa que pega.
ÉPOCA – Você sofreu esse tipo de crítica nas séries anteriores?

Drauzio – Há alguns anos fizemos uma série no Fantástico sobre gravidez. Era um pré-natal pela televisão. Tínhamos cinco pacientes de perfis diferentes. Duas das cinco nulheres foram para cesariana (uma hipertensa e uma paciente de 43 anos com pré-eclâmpsia). Se eu estivesse no lugar da obstetra provavelmente eu também teria feito cesariana naquela paciente. Apareceu uma associação de parto normal dizendo que eu estava em conluio com a TV Globo e as grandes maternidades para induzir as mulheres a fazer cesariana. Foi uma coisa louca. Imagine o que pode acontecer agora, com esse assunto das ervas que é muito mais popular e atinge muito mais gente.
ÉPOCA – É possível conciliar o tratamento convencional com algum fitoterápico? Quando o paciente pergunta se pode fazer o tratamento e continuar tomando uns chazinhos ou umas cápsulas o que você responde?

Drauzio – A resposta certa é: eu não sei. Não sabemos se existem interações. Documentar interação entre medicamentos tradicionais (com dose fixa e tudo) já é difícil. Imagine um chá desses que tem dezenas ou centenas de substâncias. Como você pode garantir que não existe nenhum antagonismo? Esse é o primeiro ponto. Digo para os pacientes não perderem tempo com essas coisas. O segundo ponto é que a medicina não pode ser feita com drogas que temos que provar que fazem mal. Temos provar que fazem bem. Se não isso não tem fim. Não chegamos a lugar nenhum. É errado dizer que o fitoterápico, pelo menos, vai fazer bem psicologicamente, que vai produzir um efeito placebo etc. Isso é enganar as pessoas. É o mesmo que dizer: vou te dar uma coisa que não serve para nada, mas como você é boba vai achar que serve e vai ficar feliz.
ÉPOCA – O que mais o surpreendeu durante a preparação da série?

Drauzio – Fiquei surpreso ao ver que o uso das ervas é feito sem nenhum controle e ainda é referendado por órgãos públicos, ligados ao Ministério da Saúde ou à Embrapa. Fiquei ainda mais surpreso com o discurso que existe por trás dessas coisas. Dizem que o uso das ervas tem fundamento científico. O fundamento científico é nenhum. Muitas vezes esse fundamento científico é uma tese de mestrado que alguém fez na faculdade de farmácia e que demonstrou que em determinada cultura de células ou em determinado animal uma fração daquele extrato tem alguma ação. Isso é apresentado como prova inequívoca da eficácia do extrato ou do chá. É um absurdo.
ÉPOCA – O que ouviu dos doentes?

Drauzio – Essa é a parte mais triste. Muitas pessoas param de se tratar porque acreditam nessas coisas. Encontrei uma senhora em Goiânia que descobriu um tumor de mama quando ele tinha 1,5 cm. Ficou tomando chás e fazendo tratamento com argila e quando foi operada o tumor já tinha dez centímetros. E ainda disseram para ela: “ainda bem que a senhora tomou as ervas, isso fez o tumor crescer devagar. Se não tivesse tomado, o tumor teria crescido mais depressa”.
ÉPOCA – Por que tanta gente é atraída para essas práticas?

Drauzio – A verdade é que, de uma forma geral, esse pessoal tem um atendimento muito precário no SUS. O médico nem olha na cara do paciente, dá a receita e manda-o embora. Nos lugares que oferecem tratamentos alternativos o acolhimento é outro. Muitas vezes quem receita as ervas são freiras em paróquias espalhadas pelo Brasil. Quem atende esses pacientes conversa, passa mais tempo com o doente. Esse lado acolhedor é o que mais atrai as pessoas. O doente vai ao médico e ele nem olha na cara. O outro, conversa.
ÉPOCA – Muitas vezes esse outro explica o que o médico não teve paciência de explicar, não é mesmo?

Drauzio – Dá uma explicação estapafúrdia, mas aquilo adquire uma lógica para quem sofre. Em alguns lugares do SUS que tratam com fitoterápicos, a consulta dura 40 minutos. É um grande diferencial. É algo muito atrativo. Mas é um mundo totalmente absurdo. A preparação dos chás é muito variável. Por quanto tempo as folhas foram fervidas? O chá ficou na geladeira? Isso tudo altera a concentração da substância presente ali. Na Farmácia Viva lá de Belém tem uma plantinha chamada insulina. Usam para diabetes. Chega lá a pobre ignorante e dizem para ela não tomar a insulina que o médico receitou. Mandam tomar a plantinha.Tem outra plantinha chamada Novalgina.
ÉPOCA – Comprovar o benefício de uma planta exige muita pesquisa. É um longo processo que separa a crendice da ciência. Como se chega a esse tipo de comprovação?

Drauzio – Na série, vamos mostrar qual é o processo certo para se chegar a isso. Visitamos um centro de pesquisa muito bem equipado na Universidade Federal do Ceará e também fomos a Porto Alegre. Contamos ainda como anda o projeto que desenvolvemos na Amazônia há 15 anos. É preciso coletar a planta, moê-la, preparar o extrato, testá-lo em tubo de ensaio. No nosso projeto no Rio Negro conseguimos 2,2 mil extratos. Metade foi testada contra células malignas. Cento e noventa demonstrou alguma atividade. Vinte apresentou bastante atividade. Separamos oito extratos para estudar profundamente. É um processo muito lento. O extrato é um chá. É preciso fazer exames de cromatografia e ressonância magnética para separar as frações. É o que estamos fazendo agora.
ÉPOCA – E depois?

Drauzio – Aí temos que testar cada fração para ver qual delas é a responsável pela atividade. Essa fração é que vai em frente. Vai ser testada em animais, depois em humanos etc. É tudo muito complexo. Não cabe às autoridades responsáveis pela saúde adotar métodos de tratamento que não têm eficácia demonstrada. As autoridades não podem criar uma medicina para rico e outra para pobre baseada em tratamentos baratinhos e sem ação. Vamos tentar mostrar como funciona o método científico. Como se prova que uma coisa é boa para a saúde ou não. Não podemos aceitar que as pessoas continuem sendo enganadas.

E você? Usa ervas e fitoterápicos? Concorda com Drauzio? Discorda? Queremos ouvir a sua experiência e a sua opinião.

EM AÇÃO

O trabalho de Drauzio Varella também já foi mostrado no cinema. Na foto, cena de Histórias do Rio Negro, de Luciano Cury (2007)

Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI162899-15230,00-ERVAS+MEDICINAIS+OS+CONSELHOS+DE+DRAUZIO+VARELLA.html


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Amigos farmacêuticos, médicos, enfermeiros e usuários do SUS,

Resolvi colocar a matéria na íntegra no blog para vocês leiam e analisem de acordo com os suas convicções científicas.

Para mim, o "Dr. Dráuzio Varella" trata coisas diferentes como se fossem iguais e, o que pior, desqualifica ações sanitárias importantes. Dizer os hortos medicinais não passam de hortas é, no mínimo, ignorância e que a opção por plantas medicinais (e quem sabe qualquer outra pratica alternativa) é fazer SUS para pobres... Bom, talvez possâmos dizer: que bom que o SUS olha para os mais pobres!

Entendo que a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos tenha problemas que precisam ser corrigidos e que precisamos estimular pesquisas científicas com as plantas medicinais para que possamos usa-las de modo seguro, mas reduzir tudo à falácia, charlatanismo e ação politiqueira é demais!